Postado às 08h38 | 08 Nov 2018
Folha
O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), já coleciona idas e vindas na formação e condução de seu governo antes mesmo de assumir. Ele enfrenta dificuldades para manter as fusões anunciadas em vários dos ministérios.
A última delas é admitir a possibilidade de governar com 18 ministérios, enquanto a proposta, antes mesmo do período eleitoral, era reduzir de 29 para 15.
Desde que se lançou pré-candidato ao Palácio do Planalto, no início de 2018, até ser eleito em outubro, Bolsonaro já recuou em ao menos 12 de suas promessas
Promessa feita antes mesmo do período eleitoral; gradualmente Bolsonaro foi admitindo que a estrutura de seu governo poderia ser maior do que a prevista inicialmente. Nesta quarta (7), ele admitiu que pode governar com até 18 pastas.
A unificação das duas pastas era uma promessa de campanha do capitão reformado e que foi incluída no programa de governo entregue à Justiça eleitoral. Entre o primeiro e o segundo turno, ele se disse aberto às sugestões de setores do agronegócio que defendem a manutenção da separação. Após o resultado das eleições, seu futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, voltou a afirmar a fusão, mas foi desautorizado pelo chefe na última semana, que declarou que "pelo que tudo indica", os dois serão ministérios separados.
Quando decidiu convidar o juiz Sergio Moro, da Lava Jato, para ser seu ministro da Justiça, Bolsonaro formatou com aliados a criação de um superministério, que agregaria ainda Segurança Pública, COAF e Transparência e CGU (Controladoria-Geral da União). Nesta quarta, admitiu que a CGU seguirá com status de ministério, separada da Justiça.
Anunciado como ministro da Defesa logo depois do primeiro turno, o general Augusto Heleno agora vai assumir o GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
Ainda no começo da campanha, Bolsonaro prometeu transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. A ideia foi proposta para acenar ao governo de Israel e ao eleitorado evangélico que se alinha a ele. Logo depois de eleito, o capitão reformado repetiu que faria a mudança, mas nesta semana voltou atrás e disse que o assunto "não está decidido".
Outro ponto que causa divergências inclusive na equipe que compõe seu núcleo duro é a união do MDIC (Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior) à Economia, pasta que será assumida por Paulo Guedes. Após pressão do setor industrial, Bolsonaro chegou a descartar a inclusão do MDIC no superministério. Mas voltou atrás, o que foi comemorado por Guedes.
Em setembro, Bolsonaro havia aventado a hipótese de retirar o Brasil do tratado que busca reduzir as emissões de dióxido de carbono em escala global. Na reta final da campanha, recuou.
O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que não pretende renegociar a dívida interna, como sugerido pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, que foi um "mal-entendido". Bolsonaro disse que a dívida, de cerca de R$ 4 trilhões, era impagável não fosse a renegociação a ser conduzida por Guedes
Às vésperas das eleições, Bolsonaro defendeu a adoção de uma dupla meta para o Banco Central, que olharia não só para a inflação, como é o procedimento atual, mas também para o câmbio. O futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), descartou a ideia de criação de meta para o câmbio, mas defendeu previsibilidade.
Em entrevista a uma TV em julho, Bolsonaro criticou a atuação da Suprema Corte e afirmou que estudava elevar o numero de magistrados de 11 para 21. Um mês depois, recuou da ideia, mesmo repetindo que achava lamentável a atuação do Tribunal.
Ao participar de evento da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), em agosto, Bolsonaro chamou a ONU de antro de comunistas e prometeu deixar o órgão se fosse eleito. Dias depois, recuou em conversa com a Folha, dizendo ter cometido um ato falho, acrescentando que se referia apenas ao Comitê de Direitos Humanos da instituição.
Durante a campanha, Bolsonaro disse varias vezes que não trabalharia pela reforma da Previdência apresentada pelo presidente Michel Temer, afirmando que a proposta era um remendo para calca velha e que levaria ao Congresso um projeto elaborado por sua equipe. Depois da eleição, mudou o tom e diz que vai trabalhar para aprovar "alguma coisa" do que esta em discussão na Câmara.