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Artigo de Ney Lopes publicado hoje, 8, na "Tribuna do Norte": "Ganhar e perder na política"

Postado às 06h09 | 08 Ago 2018

Artigo de Ney Lopes publicado no conceituado jornal "Tribuna do Norte", Natal, RN

A marca da eleição de 2018 será a fragilidade dos partidos, responsáveis por cenas típicas de uma tragédia grega, em pleno século XXI.

Na recente escolha dos candidatos, observou-se o deprimente espetáculo, que teve como palco as “negociações” para a formação das chamadas “nominatas partidárias” (coligações), transformadas em conluios, verdadeiras quadrilhas políticas, buscando unicamente a sobrevivência pessoal, sem nenhuma preocupação com o interesse da coletividade.

A “palavra de ordem” foi somar votos nas legendas para garantir mandatos e abocanhar “fatias” do Fundo partidário, através de combinações oportunistas e incoerentes, conduzindo os governos futuros para “compromissos escusos”, imposições e cumplicidade.

Alguns fatos concretos ocorridos deram a impressão de que nunca existiu a Lava Jato.

A regra foi juntar “azeite com água”, mesmo sendo necessário “vender a alma ao diabo” e jogar a coerência política pela janela.

Quem aceitou as “regras do jogo” conseguiu espaço nos partidos. Quem rejeitou, sucumbiu.

A maior consequência dessa ausência de espírito público é ver a nação mergulhada na mais violenta crise política e econômica da história, com o processo eleitoral iniciado, sem que se conheçam propostas consistentes para o executivo e o legislativo.

A curtíssima duração da campanha fará com que o horário eleitoral gratuito continue os espetáculos hollywoodianos de sempre.

Quando deputado federal pelo RN (seis legislaturas) apresentei projeto de lei, no sentido de que a legislação eleitoral transformasse o horário gratuito em debates permanentes entre os candidatos.

Isso permitiria ao eleitor conhecer os mais capazes, eliminar a mediocridade dos despreparados, vazios, sem ideias e soluções viáveis.

A sugestão era democratizar o tempo de TV e rádio entre os candidatos, eliminando a “ditadura” dos maiores partidos.

A justiça eleitoral coordenaria a seleção dos temas para debates, tudo entregue a uma consultoria, com formato de produção jornalística (perguntas desafiadoras), visando atrair o interesse do público e auxiliar os indecisos.

No Brasil, o debate eleitoral foi introduzido pelo programa “Pinga fogo” da TV Tupi, no ano de 1960.

Os mais famosos debates da História ocorreram nos Estados Unidos. Kennedy e Reagan ganharam as eleições, em razão de terem sido vitoriosos nos debates.

Pessoalmente, tentei nesta eleição de 2018 disputar uma vaga no Senado.

Tinha como meta voltar a defender essa mudança do horário eleitoral.

Além disso, sonhava em avançar e atualizar o crédito educativo, que criei em 1975 e posteriormente distorcido pelo FIES, inventado pelo PT, unicamente para favorecer as universidades particulares.

O objetivo seria retornar a minha ideia inicial de financiar também alunos de universidades públicas (custear o lazer, alimentação, habitação, livros...), cursos de mestrado e doutorado.

O remédio genérico foi outro trabalho que iniciei como deputado federal e desejaria aperfeiçoar o meio de acesso dos mais pobres à saúde.

A aposentadoria da dona de casa, também.

No RN iria lutar pela implantação da “área de livre comércio”, gerando milhares de empregos, pelo fato do nosso estado ser ponto geográfico estratégico nas Américas e o local ideal para um polo exportador e turístico.

Outro objetivo seria a regulamentação do artigo 43 da Constituição, o “ovo de Colombo” para a salvação da economia agrícola do nosso estado.

Apresentei no passado proposta de lei nesse sentido, arquivada após a minha saída do Congresso.

Os propósitos de defesa do interesse coletivo, de nada valeram. Não consegui legenda para disputar o senado.

O preço exigido foi dobrar-me aos conchavos.

As “nominatas”, à base de “trocas ilícitas” e moedas sonantes, destruíram a minha pretensão.

Em verdade, a sólida “armadura partidária”, montada em função de interesses próprios, somente concedeu espaço na eleição de 2018 no RN para quem fosse “dono” de partido, ou “baixasse a cabeça” às pressões.

Preferi ser vencido, preservar a coerência e sair com dignidade.

Na política, às vezes perder é uma forma de ganhar.

 

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