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Análise: "Bolsonaro critica PL e Zé Dirceu defende Haddad"

Postado às 05h16 | 17 Jan 2024

Ney Lopes

Jair Bolsonaro, direita. José Dirceu, esquerda.

Os dois fizeram recentes declarações, que geraram polêmica política.

O que se pode apoiar ou discordar das opiniões de ambos?

O ex-presidente criticou, indiretamente, o presidente da sua sigla – o PL -, deputado Valdemar da Costa Neto, por ter afirmado, em entrevista, que Lula é “um camarada do povo”, mas “não tem o carisma que Bolsonaro tem”.

José Dirceu advertiu o seu partido – o PT –, alertando a necessidade de “uma atualização política, teórica, de organização, para enfrentar os desafios”.

O ex-ministro criticou com veemência a postura de integrantes do partido, contrários a medidas defendidas pelo ministro da Fazenda.

Qualificou como “uma covardia não dar apoio total a Haddad para aprovar todas as medidas que ele queria"

O bolsonarismo é um fenômeno político que transcende a própria figura de Jair Bolsonaro.

Caracteriza-se por visão ultraconservadora.

Defende os ‘valores tradicionais’ e a retórica “nacionalista” e “patriótica”.

Por isso, assume posições inflexíveis contra tudo aquilo, que considere próximo à esquerda e ao que denominam de comunismo.

O PT, fundado em fevereiro de 1980, identifica-se com as ideias da ultraesquerda.

Defende bandeiras como a participação política dos trabalhadores, a construção de um partido voltado às massas, maior presença do estado e a luta contra o sistema econômico e político vigente.

O traço comum às duas siglas são posições internas autoritárias e intolerantes.

O PT, por exemplo, puniu os deputados Luiz Bassuma e Henrique Afonso, por se posicionarem contra o aborto.

Ambos tiveram seus direitos políticos suspensos por um ano e 90 dias.

Foram impedidos de votar e serem votados nas instâncias partidárias ou discursar em nome do partido.

Já o PSL, partido pelo qual Bolsonaro foi eleito, expulsou o deputado Alexandre Frota (SP) da legenda, por ele não poupar críticas ao ex-presidente.

Posteriormente, irrompeu crise entre Bolsonaro, seus filhos e Luciano Bivar, então presidente do PSL, que culminou com a saída dos bolsonaristas do partido.

A disputa envolvia o controle da legenda e das verbas milionárias do fundo partidário e do fundo eleitoral.

Diante destes precedentes, Bolsonaro insurge-se agora contra o presidente do seu atual partido, deputado Valdemar da Costa Neto e cria uma crise de certa proporção.

Já iniciado o processo das eleições municipais, sair do PL e filiar-se a outro partido seria operação perigosa.

O imperador Tang Taizong, um dos maiores líderes da história, dizia que é necessário ao líder ter a humildade suficiente para ouvir sugestões e reclamações.

Com a reação do ex-presidente fica em risco o seu próprio projeto político, caso perca o apoio do PL.

O ex-deputado José Dirceu, tido como a “cabeça pensante do petismo”, contesta a postura de lideranças do PT, incluindo a presidente da legenda, deputada Gleisi Hoffmann, que se opõe publicamente ao ministro Haddad, no que ele propõe para a área fiscal.

Gleisi considera uma "política dura de austeridade".

Vê-se esquerda e direita em situações idênticas.

Dirceu chamando a atenção para as consequências negativas do autoritarismo interno.

Bolsonaro, por uma simples declaração do presidente do seu partido, assume comportamento intolerante, sem a noção de que pelo seu temperamento o barco poderá naufragar.

 

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