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A instabilidade e a disrupção do Brasil de Bolsonaro

Postado às 04h02 | 12 Fev 2019

 João Paulo Jales dos Santos. Estudante do curso de Ciências Sociais da UERN.

O lulopetismo, desde a eleição de 2018, está incomodado com Ciro Gomes, incômodo este, que só se aprofundou após o termino do pleito presidencial. Ciro, de esquerda, que apesar de muitos petistas afirmarem que não, é visto pelo petismo como uma ameaça a liderança do PT no campo esquerdista. Há exagero por parte dessa perspectiva petista.

Mesmo sendo Ciro, um político que a despeito do seu contumaz destempero, possa ser um nome com condições viáveis de liderar um bloco de centro esquerda longe da influência petista, ressalte-se, que até aqui, o ex-governador do Ceará, não tem condições para tanto, tendo em vista a hegemonia petista no campo de esquerda. O PT, costuma metralhar sem dó nem piedade todo político de esquerda que não comunga das decisões do partido, mas sempre faz sala para políticos de direita que, como demonstrou o impeachment de Dilma Rousseff, mesmo traindo a agremiação depois de todas as benesses ganhas na era do lulopetismo, devem ser tratados com extrema deferência pela sigla. Olhando tanto pela perspectiva de Ciro quanto da de Lula, há coerência em suas decisões.

Ciro quer liderar um bloco moderado de esquerda que não necessite do PT para agir. Já Lula, quer sufocar toda e qualquer alternativa minimamente viável que ameace sua liderança. Sábio líder que é, Lula tem consciência que é melhor desarmar logo no início a construção de uma liderança que lhe faça frente, antes que o poder do possível líder deixe de ser apenas uma mera abstração, e passe a ter feitos concretos sob os caminhos da esquerda.

Depois dos duros golpes que sofreu, vindos de Lula em Curitiba, quando tentou montar uma coligação levemente turbinada para acolher sua candidatura, é compreensível que Ciro parta para a ação sem temer o comandado de campo petista.

Eduardo Campos, em 2014, começou a fazer em ensaio que hoje tenta Ciro. Mas a morte do ex-governador de Pernambuco, hábil articulador político, deixou órfão um projeto de coalização de centro esquerda que enfrentasse o domínio lulopetista. Campos, aglutinou diferentes políticos de diversas matizes ideológicas no seu PSB, de fundamentalistas religiosos à feministas, quando morreu, e o partido não tinha uma liderança capaz de dar continuidade ao a seu projeto, o PSB naufragou, enfrentado uma séria crise de liderança, com debanda de políticos que nunca foram alinhados à esquerda, mas que fincaram pé na agremiação graças a articulação empreendida por Campos. 

Ao invés de querer desarmar a tentativa de projeto levada à cabo por Ciro, o PT deveria preocupar-se em construir uma liderança que pudesse substituir Lula, que mais do que nunca, se encontra sem absolutamente nenhuma perspectiva de continuar sendo o represente maior da agremiação.

A crise de identidade, juntamente com uma de liderança, que começa a germinar no PT, pode se agravar, caso o alto comando petista continue a querer não se resignar da situação de Lula, abrindo mão de construir lideranças que possam iniciar uma organização do partido, visando dar credibilidade a agremiação após a derrota eleitoral de 2018, reconquistando a confiança da sigla, em meio ao desgaste que a permeia.

A vitória de Bolsonaro provou, que mesmo Lula sendo um presidente benquisto por mais de um terço do eleitorado, o ex-presidente é ao mesmo tempo uma figura que atrai rancores e subleva o ódio dos partidários do antipetismo, que não medem as consequências e partem para uma violência física e psicológica, calcada num extremismo fundamentalista ideológico. A violência, em todas as suas faces, é uma característica marcante que define o Brasil que votou em Bolsonaro, eleito muito por conta de uma crise econômica numa junção que formou uma espécie de simbiose moralista advinda dos escândalos de corrupção.   

Enquanto a oposição segue sem uma definição de agenda e estratégia para combater o governo, a entourage bolsonarista inicia o desenvolvimento político da reforma da Previdência.

O modelo de capitalização defendido pelo governo é o mesmo que passou por reformas no Chile, e começa a ser revisto no México, Peru e Colômbia. Uma proposta que não deu certo em outros países, mas que teima em ser vendida com credibilidade pelos economistas ultraliberais do governo.

De certo, a reforma não sairá como pretendida pelo governo, vide que passará por reformulações no processo de tramitação legislativa, mas há que se considerar que sua proposição já é um agravante por ir de encontro aos pilares institucionais de seguridade social que amparam juridicamente a Previdência Social.

Num modelo de Estado, em que o poder estatal é ele mesmo fomentador de desigualdades sociais, a reforma previdenciária proposta somente irá agravar as desigualdades já constantes. Deveria o governo estar preocupado numa reforma educacional que não fizesse da escola pública um depositário de futuros trabalhadores de mão de obra barata, enquanto que as escolas privadas da alta burguesia formam a classe dirigente do país.

Devia o governo estar preocupado em construir um modelo social e econômico de Estado que atentasse para o que diz a constituição. O Estado de Bem-estar social brasileiro ruiu, dando passagem para um padrão socioeconômico parecido com o americano, mas sem a garantia de concorrência e competividade do liberalismo econômico estadunidense que entrega as massas consumo de produtos baratos. O Brasil possui uma social-democracia deformada, com um liberalismo irresponsável, resultando num padrão social surreal, sem que haja compromisso público e político para reformar tal modelo.

Os ultraliberais do governo, comprometem-se com mais desigualdades sociais, sem empenharem-se na construção de um liberalismo baseado em princípios racionais de igualdade jurídica e de oportunidades.

Enquanto avança a pauta da agenda econômica, por ora, retrai-se a da dos costumes, inversão de ordem que já é motivo de embaraço no segmento religioso fundamentalista da coalização parlamentar da base do governo. Os bolsonaristas, costumam se chamarem de liberais, tão somente porque o termo soa mais ‘transante’. Mas tecnicamente, são reacionários. Liberais seriam se defendessem liberdade econômica e liberdades individuais. Como pregam um conservadorismo social ultrajante, sem abertura para mudanças sociais lentas e gradativas, impera o reacionarismo, que retrai os valores sociais e culturais para os tempos históricos mais atrasados.

Liberal é George Soros, sempre atacado pela direita reacionária como sendo um perigoso subversivo marxista cultural. Soros não é de modo algum um revolucionário comunista, é um progressista que advoga pela manutenção da ordem liberal, que enxerga que as investidas da Rússia e da China contra as instituições democráticas liberais ocidentais, é um perigo para o ordenamento liberal global.

A China possui um poderio de soft power e hard power muito maior do que da Rússia, que costuma ser superestimada pelo ocidente muito por conta de ser uma potência militar. A própria discussão política que define as diferenças entre conservadores e liberais na contemporaneidade, ganhou novos contornos teóricos ao se observar que muitos dos conservadores modernos não são liberais no campo da economia, mas defensores de uma economia estatizante ao mesmo que defendem os valores sociais conservadores.

Com desavenças gritantes dentro das vísceras bolsonarista, com um presidente que não consegue aplacar as desavenças de sua conservadora mas heterogênea coalização política, cabendo aos militares exercer a moderação na falta de um líder político, com os atritos do clã Bolsonaro com o vice-presidente, Hamilton Mourão, ganhando cada vez mais contornos de instabilidade, onde deputados do PSL não conseguem se entender entre si, o governo entra em seu 2º mês com um alerta alto que aponta para um horizonte de instabilidades sem resoluções a médio prazo.

Ao delegar as várias tarefas do governo para seus super-ministros, Bolsonaro somente comprova sua total falta de liderança, que o faz um político incapacitado, que em suas quase 3 décadas de vida pública, não conseguiu aprovar nenhum projeto para a área da segurança pública, bandeira que alçou o militar a disputa de cargos eletivos. Juntamente com as inconstâncias de governo, há no panorama social uma violência cultural que dá abertura para perseguições de políticos, militantes e ativistas sociais, com casos de ativistas tendo que se refugiarem no exterior por temerem por suas próprias vidas no país.

O Brasil de Bolsonaro, vai entregando a promessa do presidente de fazer voltar 50 anos no tempo, onde a violência democrática e institucional dos militares, marcou 1968, ano encerrado com a promulgação do Ato Institucional no 5, que aumentou drasticamente a escalada de perseguições políticas e a violência estatal do regime militar-autoritário. Incompetente liderança, Jair Bolsonaro, por ele mesmo, tende a correr ainda mais as entranhas de seu movimento político, que numa circunstancia especial, o elegeu presidente. Bolsonaro não pode ser comparado a Collor, porque chega a ser mais inconsequente do que o aventureiro político alagoano.

A queda de Collor já é conhecida, a de Bolsonaro, nessa toada de governo, pode ser mais dramática.

Ao menos, caso não consiga concluir o mandato dentro do prazo jurídico-democrático, por levar adiante uma agenda ultraliberal, Bolsonaro, e sua família, irão usufruir das benesses do mercado e do alto empresariado, assim como usufrui Michel Temer, o ex-presidente, que jamais chegaria ao Palácio do Planalto por força das urnas.

 lulopetismo, desde a eleição de 2018, está incomodado com Ciro Gomes, incômodo este, que só se aprofundou após o termino do pleito presidencial. Ciro, de esquerda, que apesar de muitos petistas afirmarem que não, é visto pelo petismo como uma ameaça a liderança do PT no campo esquerdista. Há exagero por parte dessa perspectiva petista. Mesmo sendo Ciro, um político que a despeito do seu contumaz destempero, possa ser um nome com condições viáveis de liderar um bloco de centro esquerda longe da influência petista, ressalte-se, que até aqui, o ex-governador do Ceará, não tem condições para tanto, tendo em vista a hegemonia petista no campo de esquerda. O PT, costuma metralhar sem dó nem piedade todo político de esquerda que não comunga das decisões do partido, mas sempre faz sala para políticos de direita que, como demonstrou o impeachment de Dilma Rousseff, mesmo traindo a agremiação depois de todas as benesses ganhas na era do lulopetismo, devem ser tratados com extrema deferência pela sigla. Olhando tanto pela perspectiva de Ciro quanto da de Lula, há coerência em suas decisões. Ciro quer liderar um bloco moderado de esquerda que não necessite do PT para agir. Já Lula, quer sufocar toda e qualquer alternativa minimamente viável que ameace sua liderança. Sábio líder que é, Lula tem consciência que é melhor desarmar logo no início a construção de uma liderança que lhe faça frente, antes que o poder do possível líder deixe de ser apenas uma mera abstração, e passe a ter feitos concretos sob os caminhos da esquerda. Depois dos duros golpes que sofreu, vindos de Lula em Curitiba, quando tentou montar uma coligação levemente turbinada para acolher sua candidatura, é compreensível que Ciro parta para a ação sem temer o comandado de campo petista.

Eduardo Campos, em 2014, começou a fazer em ensaio que hoje tenta Ciro. Mas a morte do ex-governador de Pernambuco, hábil articulador político, deixou órfão um projeto de coalização de centro esquerda que enfrentasse o domínio lulopetista. Campos, aglutinou diferentes políticos de diversas matizes ideológicas no seu PSB, de fundamentalistas religiosos à feministas, quando morreu, e o partido não tinha uma liderança capaz de dar continuidade ao a seu projeto, o PSB naufragou, enfrentado uma séria crise de liderança, com debanda de políticos que nunca foram alinhados à esquerda, mas que fincaram pé na agremiação graças a articulação empreendida por Campos. 

Ao invés de querer desarmar a tentativa de projeto levada à cabo por Ciro, o PT deveria preocupar-se em construir uma liderança que pudesse substituir Lula, que mais do que nunca, se encontra sem absolutamente nenhuma perspectiva de continuar sendo o represente maior da agremiação. A crise de identidade, juntamente com uma de liderança, que começa a germinar no PT, pode se agravar, caso o alto comando petista continue a querer não se resignar da situação de Lula, abrindo mão de construir lideranças que possam iniciar uma organização do partido, visando dar credibilidade a agremiação após a derrota eleitoral de 2018, reconquistando a confiança da sigla, em meio ao desgaste que a permeia. A vitória de Bolsonaro provou, que mesmo Lula sendo um presidente benquisto por mais de um terço do eleitorado, o ex-presidente é ao mesmo tempo uma figura que atrai rancores e subleva o ódio dos partidários do antipetismo, que não medem as consequências e partem para uma violência física e psicológica, calcada num extremismo fundamentalista ideológico. A violência, em todas as suas faces, é uma característica marcante que define o Brasil que votou em Bolsonaro, eleito muito por conta de uma crise econômica numa junção que formou uma espécie de simbiose moralista advinda dos escândalos de corrupção.   

Enquanto a oposição segue sem uma definição de agenda e estratégia para combater o governo, a entourage bolsonarista inicia o desenvolvimento político da reforma da Previdência. O modelo de capitalização defendido pelo governo é o mesmo que passou por reformas no Chile, e começa a ser revisto no México, Peru e Colômbia. Uma proposta que não deu certo em outros países, mas que teima em ser vendida com credibilidade pelos economistas ultraliberais do governo. De certo, a reforma não sairá como pretendida pelo governo, vide que passará por reformulações no processo de tramitação legislativa, mas há que se considerar que sua proposição já é um agravante por ir de encontro aos pilares institucionais de seguridade social que amparam juridicamente a Previdência Social.

Num modelo de Estado, em que o poder estatal é ele mesmo fomentador de desigualdades sociais, a reforma previdenciária proposta somente irá agravar as desigualdades já constantes. Deveria o governo estar preocupado numa reforma educacional que não fizesse da escola pública um depositário de futuros trabalhadores de mão de obra barata, enquanto que as escolas privadas da alta burguesia formam a classe dirigente do país. Devia o governo estar preocupado em construir um modelo social e econômico de Estado que atentasse para o que diz a constituição. O Estado de Bem-estar social brasileiro ruiu, dando passagem para um padrão socioeconômico parecido com o americano, mas sem a garantia de concorrência e competividade do liberalismo econômico estadunidense que entrega as massas consumo de produtos baratos. O Brasil possui uma social-democracia deformada, com um liberalismo irresponsável, resultando num padrão social surreal, sem que haja compromisso público e político para reformar tal modelo. Os ultraliberais do governo, comprometem-se com mais desigualdades sociais, sem empenharem-se na construção de um liberalismo baseado em princípios racionais de igualdade jurídica e de oportunidades.

Enquanto avança a pauta da agenda econômica, por ora, retrai-se a da dos costumes, inversão de ordem que já é motivo de embaraço no segmento religioso fundamentalista da coalização parlamentar da base do governo. Os bolsonaristas, costumam se chamarem de liberais, tão somente porque o termo soa mais ‘transante’. Mas tecnicamente, são reacionários. Liberais seriam se defendessem liberdade econômica e liberdades individuais. Como pregam um conservadorismo social ultrajante, sem abertura para mudanças sociais lentas e gradativas, impera o reacionarismo, que retrai os valores sociais e culturais para os tempos históricos mais atrasados.

Liberal é George Soros, sempre atacado pela direita reacionária como sendo um perigoso subversivo marxista cultural. Soros não é de modo algum um revolucionário comunista, é um progressista que advoga pela manutenção da ordem liberal, que enxerga que as investidas da Rússia e da China contra as instituições democráticas liberais ocidentais, é um perigo para o ordenamento liberal global. A China possui um poderio de soft power e hard power muito maior do que da Rússia, que costuma ser superestimada pelo ocidente muito por conta de ser uma potência militar. A própria discussão política que define as diferenças entre conservadores e liberais na contemporaneidade, ganhou novos contornos teóricos ao se observar que muitos dos conservadores modernos não são liberais no campo da economia, mas defensores de uma economia estatizante ao mesmo que defendem os valores sociais conservadores.

Com desavenças gritantes dentro das vísceras bolsonarista, com um presidente que não consegue aplacar as desavenças de sua conservadora mas heterogênea coalização política, cabendo aos militares exercer a moderação na falta de um líder político, com os atritos do clã Bolsonaro com o vice-presidente, Hamilton Mourão, ganhando cada vez mais contornos de instabilidade, onde deputados do PSL não conseguem se entender entre si, o governo entra em seu 2º mês com um alerta alto que aponta para um horizonte de instabilidades sem resoluções a médio prazo. Ao delegar as várias tarefas do governo para seus super-ministros, Bolsonaro somente comprova sua total falta de liderança, que o faz um político incapacitado, que em suas quase 3 décadas de vida pública, não conseguiu aprovar nenhum projeto para a área da segurança pública, bandeira que alçou o militar a disputa de cargos eletivos. Juntamente com as inconstâncias de governo, há no panorama social uma violência cultural que dá abertura para perseguições de políticos, militantes e ativistas sociais, com casos de ativistas tendo que se refugiarem no exterior por temerem por suas próprias vidas no país.

O Brasil de Bolsonaro, vai entregando a promessa do presidente de fazer voltar 50 anos no tempo, onde a violência democrática e institucional dos militares, marcou 1968, ano encerrado com a promulgação do Ato Institucional no 5, que aumentou drasticamente a escalada de perseguições políticas e a violência estatal do regime militar-autoritário. Incompetente liderança, Jair Bolsonaro, por ele mesmo, tende a correr ainda mais as entranhas de seu movimento político, que numa circunstancia especial, o elegeu presidente. Bolsonaro não pode ser comparado a Collor, porque chega a ser mais inconsequente do que o aventureiro político alagoano. A queda de Collor já é conhecida, a de Bolsonaro, nessa toada de governo, pode ser mais dramática. Ao menos, caso não consiga concluir o mandato dentro do prazo jurídico-democrático, por levar adiante uma agenda ultraliberal, Bolsonaro, e sua família, irão usufruir das benesses do mercado e do alto empresariado, assim como usufrui Michel Temer, o ex-presidente, que jamais chegaria ao Palácio do Planalto por força das urnas.

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