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A contribuição do PSDB na ascensão meteórica de Jair Bolsonaro

Postado às 03h46 | 24 Set 2018

João Paulo Jales dos Santos. Estudante do curso de Ciências Sociais da UERN.

Era de se esperar que esta campanha presidencial fosse conduzida por uma discussão minimamente qualificada dos vários temas constantes na agenda nacional. No entanto, o que se vê é o mesmo ramerrame de sempre.

Os candidatos fogem de debater com serenidade e seriedade sobre economia, administração pública, tributação e bem-estar social. Nem parece que o Brasil está mergulhado numa crise econômica e social. N

ossa elite política, mergulhada nas barafundas partidária e jurídica que a consome, teima em não levar a sério a delicada situação da sociedade brasileira. Entendível então, porque o país chegou nessa instabilidade de hoje. Com uma elite política que anseia por garantir e ampliar seus privilégios, o Estado brasileiro e sua população, não passam de meros apêndices para chancelar o grupo político que estará no controle do Palácio do Planalto para manter o mesmo status quo estabelecido desde o fim do regime militar-autoritário.

É bem verdade que as tantas incertezas que marcaram o início da campanha, como o julgamento da candidatura de Lula, a resiliência eleitoral de Bolsonaro e o atentado sofrido pelo candidato, a possível decolagem de Geraldo Alckmin, acabaram de algum modo solapando a discussão em torno das questões da agenda política nacional. De todo modo, não se justifica tamanha negligência por parte das candidaturas em não tratar devidamente como se deve os problemas de ordem institucional, social e econômico-fiscal que afligem o Brasil.

Problemas esses que não são de hoje, e que por exatamente não terem sido solucionados no passado, acarretaram no panorama lamentável deste 2018. Os candidatos e seus assessores fogem prontamente de toda argumentação que indique como o Brasil pode sair deste caótico emaranhado. O que nos faz questionar sobre um possível combinado entre as candidaturas para justamente não se propor ideias para sanar os males do tecido social do país.

Muito se cogitou, sobre se a candidatura de Geraldo Alckmin iria decolar, chegando ao 2º turno, e mais uma vez fazendo o embate PT vs. PSDB que dura desde 1994. Compondo a maior coligação em torno de uma candidatura nesta campanha, com mais de 40% do tempo da propaganda de rádio e TV, os tucanos veem estarrecidos a chapa Alckmin-Ana Amélia, não ultrapassar a barreira dos 10% das intenções de voto.

A pouco menos de 20 dias para a votação do 1º turno, os próprios tucanos não fazem mais cerimônia de jogar a toalha. É FHC escrevendo carta via rede social pedindo alinhamento das forças moderadas para combater o avanço do extremismo. É Tasso Jereissati, mais uma vez afirmando em entrevista, que o PSDB errou desde o resultado da eleição presidencial de 2014, e errou mais ainda por embarcar no governo Temer. É o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, se negando a receber Alckmin para fazer campanha junto com o candidato na capital amazonense.

É o establishment do PSDB reconhecendo por meio dessas três importantes figuras do partido, que Geraldo Alckmin possivelmente não irá conseguir sequer chegar ao 2º turno. É o ninho tucano se consumindo num dilema intrapartidário que toma de conta do partido desde que FHC foi eleito presidente, e que chega neste 2018 mergulhado numa espécie de crise de identidade partidária-ideológica.

Fundado com base na doutrina política da social-democracia, o PSDB na década de 90 se deslocou à direita, aprofundamento este que se consolidou nos embates com o petismo nas duas décadas dos anos 2000. Tendo uma bancada cada vez mais composta por uma maioria identificada com uma direita do centro ao extremo do espectro ideológico, o partido nunca chegou a resolver o dilema de sua própria identidade que ao longo do tempo foi mudando o caráter ideológico da legenda.

Se por um lado, vários membros de sua bancada no Congresso Nacional estão à direita, por outro, muitos dos quadros orgânicos da intelectualidade tucana são figuras da esquerda social-democrata. Nesse embate nunca resolvido dentro do ninho tucano, o PSDB se tornou crítico ao PT e a esquerda, sem nunca ter sido uma agremiação completamente de direita.

E no meio dessa dubiedade ideológica, vem a decisão coercitiva de aderir as manifestações que pediam o impeachment de Dilma Rousseff. A elite política e intelectual tucana não se chegou a um consenso sobre se apoiar e fomentar os grupos pró-impeachment seria uma boa ideia, mas o PSDB se viu obrigado a aderir a esses grupos por uma pressão advinda do oposicionismo durante os governos petista.

No fim e ao cabo, os louros que os tucanos esperavam colher dessa decisão não deu certo.

Fomentar os grupos reacionários da direita após a derrota de Aécio Neves, e bancar o nascedouro do governo Temer, fez o PSDB abrir espaço para um fortalecimento da extrema-direita. Com uma direita agrupada num discurso reacionário, o centro perdeu espaço, desse modo, Jair Bolsonaro ascendeu mais rapidamente, e o polo da centro-direita, ocupado pelo PSDB desde a década de 90, perdeu espaço.

A candidatura de Alckmin tende a não ir para o 2º turno, porque o PSDB cometeu enormes equívocos ao participar ativamente no apoio organizacional e financeiro a direita reacionária que emergiu da reeleição de Dilma Rousseff. Parafraseando aquele famoso ditado popular, o PSDB colhe o que plantou. Numa sucessão de erros, os tucanos assistem a alta probabilidade de Alckmin passar vergonha e ficar distante de obter um quinto da votação popular do 1º turno.

Jair Bolsonaro conseguiu no período de 2015 a 2017, aglutinar seguidores fiéis, que estariam com ele acontecendo o que viesse a acontecer. É a lealdade ao líder. Seus simpatizantes são guerreiros entrincheirados com ardor para defender a causa que os alimenta.

Davam cerca de 20% das intenções de voto a Bolsonaro, percentual esse que num cenário de fragmentação de candidaturas como a deste 2018, seria percentual razoável para levar Bolsonaro ao 2º turno. Mas agora, os 20% já se tornaram 25%, o que eleva ainda mais as chances de o líder da extrema direita estar presente na 2ª rodada presidencial.

Os tucanos, consumidos pelo rancor da derrota de Aécio, alimentaram uma direita que abastecida de ódio, viu em Bolsonaro a personificação ideal para combater o “comunismo, esquerdismo, ideologia de gênero”, termos esses usados pelos eleitores do deputado federal do Rio de Janeiro. Os eleitores do PSDB nas últimas eleições, alienados que estão, percebem no tucanato uma espécie de esquerda enrustida, fazendo a legenda causar ojeriza naqueles que durante os anos de PT na Presidência votaram 45 nas urnas.

O que acontece hoje com o eleitorado um dia identificado com o PSDB, é parecido com a repulsa que a classe média, um dia fiel eleitora do PT, sente pela legenda. Os tucanos que tanto cobram autocrítica ao petismo pelos escândalos de corrupção que assolaram a legenda, estariam dispostos a fazerem uma autocrítica pelos equívocos que cometeram ao apoiar diretamente a direita reacionária?

Ou o PSDB é tão parecido com o PT, que autocrítica é palavra proibida para o establishment partidário?

Num provável 2º turno entre Bolsonaro e Haddad, o PSDB, para manter sob seu controle o reagrupamento que terá que fazer na centro-direita, pode apoiar o PT.

Não será um apoio direto, mas sim indireto. E tão somente por uma questão de manter a liderança no campo que o tucanato conquistou ao longo dos últimos vinte anos. Afinal de contas, o fortalecimento do bolsonarismo, levaria a um enfraquecimento do PSDB.

Com o centrismo enfraquecido, o PSDB perde espaço e apoio político. Um apoio enrustido ao lulopetismo é uma questão de perder agora, para ganhar na frente. Com isso, os tucanos serão Haddad na Presidência em 2018, para poder recuperar em 2022, o espaço perdido neste pleito.

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